29 de Novembro | 11H00 | Sala Alice Gouveia
Apresentação do Livro "Viagens Brancas"
29 de Novembro | 11H00 | Sala Alice Gouveia
No âmbito da licenciatura em Comunicação Social irá realizar-se uma sessão de apresentação do Livro "Viagens Brancas", da autoria da jornalista Ana Cristina Pereira do Público.
A apresentação da obra será de Amílcar Correia, Director do Projecto P3 do Público.
Sobre a autora: Ana Cristina Pereira estudou Comunicação Social na Universidade do Minho. É jornalista do Público desde 1999. Dedica-se, sobretudo, às temáticas de exclusão social, como a pobreza, os tráficos, as dependências, as piores formas de trabalho infantil, a delinquência juvenil, a violência intrafamiliar, a reclusão, as migrações e as minorias. “Meninos de Ninguém”, de 2009, foi o seu primeiro livro [já apresentado na ESEC.
• 19/05/2009 ]. O livro “Viagens Brancas”, da Arcádia, foi lançado a 8 de Junho de 2011.
Ver mais em http://meninosdeninguem.wordpress.com/category/viagens-brancas-apresentacoes/
Sobre o livro Na contracapa, por Cândida Pinto, Jornalista da SIC
“À descoberta de um desconhecido próximo. É essa a proposta destas “Viagens Brancas”, nunca brandas. Pela mão de Ana Cristina Pereira desfilam vidas de mulheres, mães, filhas, companheiras, usadas, manipuladas, consumidas, traficantes, detidas, dependentes de cocaína.
Há suspense, há identidades camufladas, há momentos daquela pura realidade que vai para lá da ficção. Se não fossem trágicas, algumas histórias seriam cómicas. A guerra entre as famílias “Cavadoras” e “Panelas”, no bairro do Aleixo, no Porto; a aventura da vaidosa Zany, que zarpa de iate da baía do Tarrafal, em Cabo Verde, com uma mala cheia de dinheiro.
O talento de Ana Cristina Pereira faz-nos viajar com intensidade e emoção por dentro destas histórias reais: pela colheita da coca na Bolívia, pela angústia de mãe com o filho preso na Venezuela, pelos bairros de má fama, pelas janelas de venda, pelas ruínas do consumo, pelas festas onde circulam bandejas com riscos de pó. Viagens brancas, nunca brandas.”
Do Pósfacio, Raquel Matos, Professora auxiliar da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa,
“A grande protagonista não é a cocaína, são as mulheres que com ela de alguma forma se relacionam. Por um lado, o livro evidencia vidas de mulheres com tudo o que é socialmente construído como tipicamente feminino – cuidar dos filhos ou culpabilizar-se por não o fazer, assumir qualquer papel para assegurar o bem-estar de todos a seu cargo, ter menos oportunidades e menos poder, ou ser vítima de formas diversas de violência pela condição de ser mulher.
Por outro lado, o livro desconstrói ideias tradicionais e estereotipadas sobre a mulher, ao mostrar-nos que a sua ligação com as drogas pode ser qualquer uma – a de consumidora ocasional, frequente, dependente, actual, passada, em tratamento, em recuperação ou em recaída –, assim como a sua ligação ao crime também pode ser uma de muitas – tomando o tráfico como exemplo, conhecemos a mulher que trafica para consumir, a que trafica para dar a consumir, a que vê no tráfico um grande negócio, ou apenas uma oportunidade.
Esta dimensão do envolvimento das mulheres no desvio vai mais além no livro “Viagens Brancas”. A participação das mulheres em actividades desviantes pode resumir-se a um papel passivo, heterónomo, coagido, sem controlo, como nos habituámos a pensar no comportamento feminino. Mas também nos é indicado que a mulher pode ter um papel activo, autónomo e controlador na actividade criminal, como conta a Ana Cristina a partir da história de Zany.
As mulheres, de quem não se espera que cometam crimes, ou sequer que se desviem, afinal fazem-no. E, por vezes, da forma racional e determinada que se tende a atribuir em exclusivo aos homens. Prevalece, no entanto, a expectativa social de que as mulheres correspondam a um ideal de feminilidade que passa pela constante conformidade às normas. Esta expectativa tem promovido uma dupla penalização das mulheres que cometem crimes. Por um lado, porque os cometem; por outro lado, porque são mulheres e, como tal, não os devem cometer. Não tenho grandes dúvidas: formal ou informalmente, as mulheres são mais julgadas pela sua maior ou menor conformidade aos papéis de género do que pelos crimes que cometem.
Através das histórias que nos conta, a Ana Cristina Pereira dá-nos uma excelente oportunidade para reflectirmos sobre o impacto da construção social do feminino na vida destas e de outras mulheres.”